quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quando as filhas tornam-se mães

Maternidade pode mudar relação de mulheres com suas mães


Chegamos ao mundo extremamente dependentes. Levamos muito tempo para controlar nossos movimentos a ponto de nos tornarmos capazes de sobreviver. Precisamos de meses para caminhar, para nos comunicarmos, para nos protegermos ou nos alimentarmos sozinhos. Quis a natureza, para que pudéssemos desenvolver mais capacidades, que nosso cérebro continuasse a amadurecer após o nascimento, o que nos torna uma espécie muito evoluída, mas paradoxalmente muito dependente ao nascer.

Dessa forma, a presença de um adulto que nos proporcione todos os aprendizados do início da vida não é só romanticamente desejável, mas fundamental para a sobrevivência. Em nossa sociedade esse papel é assumido prioritariamente pela mãe, fato mais que justificável, já que é no corpo dela que somos gerados. E apesar dos pais estarem cada vez mais presentes no início da vida, é geralmente a mãe o primeiro adulto que nos dá colo, afeto, carinho e cuidados. É por isso que nossa relação com ela, ou a ausência dela, nos marca profunda e intensamente.

No início da vida, à medida que passamos a compreender um pouquinho a existência, vivemos uma fase linda de adoração desse ser que nos parece perfeito. Mesmo quem tem uma mãe ausente, também pode criar uma fantasia positiva dela. Exaltamos todas suas qualidades, sua disponibilidade para nós e seus cuidados. A mãe é a nossa salvadora, a que nos deu condição de estarmos vivos. Também pode ser comum acharmos que ela é linda, perfeita, e que está sempre certa. E com o passar dos anos tendemos a transitar entre duas reações extremas: estender ao máximo essa relação de dependência ou nos rebelarmos e fazermos de tudo para sermos autossuficientes.

Como enxergamos nossas mães ao longo da vida?

As filhas "rebeldes" passam a ter cada vez mais autonomia e na adolescência já são capazes de tomar conta do próprio corpo, da alimentação, e gostam de pensar que são totalmente independentes. E nessa fase podem ficar bem críticas em relação àquela que antes era admirada e protegida. Já as filhas mais dependentes se recusam a crescer e demoram muito para se sentirem capazes de assumir a maternidade. Preferem se comportar eternamente como filhas e rejeitam a ideia de um dia serem mães seguras e independentes.

Em qualquer um dos grupos e quaisquer que sejam as características daquela que nos criou, pensamos que a forma de nossas mães exercerem a maternidade nunca está certa. Se a mãe é muito disciplinadora, idealizamos uma mãe companheira e compreensiva. Se ela é amiga e aberta ao diálogo, queremos uma mãe que não se confunda conosco e que não seja lembrada ou requisitada por nossos amigos. Sem consciência de que preparar-se para a vida vai além de sobreviver fisicamente - já que também envolve aspectos psicológicos, mentais e emocionais que requerem muito amadurecimento - é natural que a filha se contraponha, critique e se distancie. Na verdade, ela está procurando seu próprio caminho, seu próprio jeito de ser mulher e de, no futuro, ser mãe.

O desafio da maternidade

Então a vida caminha e surge o momento que essa filha se torna mãe. E tenha ela se preparado ou não, esteja pronta ou não, a maternidade será sempre um grande desafio. Porque então chega o momento que nos deparamos com a possibilidade de corrigir tudo aquilo que julgávamos "errado" na maneira de ser de nossas mães. E é quando descobrimos que as decisões que envolvem a maternidade não são nada fáceis.

Ser mãe é muitas vezes exigir demais de si e se sobrecarregar de culpas extremas. Queremos acertar sempre, não errar jamais e temos a pretensão de que existem respostas certas e absolutas quando se trata da criação de filhos. Queremos acreditar nisso e também nos nossos próprios "superpoderes".

Mas quando nos deparamos com a realidade de que somos limitados mortais em nosso caminho de evolução é que finalmente olhamos para nossa mãe com outro olhar. Porque aí não podemos mais fingir que ela ainda é a "super mulher" ou a "super vilã". Temos que olhar pra um ser humano cheio de virtudes e falhas, cheio de certezas e de contradições e enxergar alguém que um dia se permitiu errar. E é justamente por esse motivo que estamos aqui. Então o olhar da filha volta a se enternecer diante daquela figura que, independente de erros e acertos, correu riscos e nos trouxe ao mundo.


Fonte: http://www.personare.com.br/revista/casa-e-familia/materia/1425/quando-as-filhas-tornam-se-maes

2 comentários:

  1. Olá meu querido amigo!
    Maravilhoso esse texto! Maravilhoso!
    Sabe que eu e meu irmão sempre dizemos que "hoje" compreendemos os cuidados que nossa mãe teve conosco! Muitas das "neuras" que achávamos que ela tinha, herdamos e repassamos aos nossos filhos. Porém, hoje, o sentido dos cuidados e até do amor é muito maior, porque nos colocamos no mesmo papel, sentimos o que elas sentiam (e ainda sentem)... A maternidade nos renova em tudo! É gratificante poder gerar uma vida e conduzí-la pelo mundo... E a consciência maior que temos é justamente a do papel de filhos... Eu, pelo menos, me acho uma filha melhor depois que tive os meus filhos... Precisei ser mãe para entender o que é ser filha...
    Grande beijo,
    Jackie

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  2. Oi, otávio!! Gostei muito deste texto... achei bem real... Eu tenho um site sobre maternagem... se quiser dê uma passadinha por lá www.descobrindoamaternagem.blogspot.com

    Renata

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