segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Luto

Ao nos despedirmos de alguém, ou de uma etapa, um emprego ou qualquer coisa, podemos passar por um processo demasiadamente humano chamado luto. O luto é a resposta do cérebro perante uma perda, voluntária ou involuntária.

Não há como sermos felizes sem curtirmos a fase do luto, por mais ou menos dolorosa que possa ser. É a superação, através da dor, para que a fase ou a pessoa fique em nossa lembrança da maneira mais leve e agradável possível. Depois do luto, não há o esquecimento completo, mas uma lembrança agradável, a fim de que continuemos a viver com boas lembranças, apesar da ausência.

Não há período determinado, exteriorização ou não do sentimento, momento para começar e terminar. Nada é regra e obrigatório. Podemos viver a fase da negação por anos e nunca mais nos permitirmos ser felizes. Podemos adiar a etapa do luto para mais adiante, podemos sentir e experenciar tantas coisas que não caberiam em um simples e despretensioso texto.

Pode ser até possível viver o luto durante a perda, antes mesmo de o ser querido partir, quando já pressentimos ou sabemos de maneira objetiva. O incrível do ser humano é que não existe um número absoluto de possibilidades!

De qualquer forma, o caminho necessário do luto é íntimo e difícil. É preciso aceitar a perda e chorá-la.

Somente depois é que vamos começar a nos permitir a construção de uma nova vida, onde as feridas da ausência estarão mais leves e a própria reconstrução da lembrança do ser querido se torna possível. Para o novo processo, é necessário nos permitirmos chorar e rir quando for preciso.

E, sem medo de sermos felizes, melhor viver com a sensação de que a vida fica mais feliz ao nos ver com o rosto novamente iluminado!



sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Verdade subjetiva

Seria estranho se a vida não fosse rechada de mudanças de rumo e de planos. Mudança de endereço, de aspiração profissional, mudanças boas, ruins, fases e mais fases dessa etapa tão cheia de surpresas que é a vida.

É impossível imaginar a vida sem mudanças, por mais duras e penosas que sejam. Até o fim de nossa existência atual, ainda teremos infinitas novas oportunidades de crescimento e de testar nossa permanência na prática do bem. Cada instante é uma oportunidade e um risco.

Mas por que a vida é assim? Para que tantas mudanças, surpresas e decepções? Por quê? Por quê? Por quê? A zona de conforto é aquela agradável coisa morna que não muda e também não perturba. Por que mudar então???

Aventurar-se, na acepção adequada e coerente do termo, pode significar simplesmente a tomada de consciência de si próprio. Evitar perder a si mesmo em meio ao inevitável do inesperado. É testar a força e a capacidade, por mais doloroso que seja. E, cá entre nós, foram nossas mudanças e nossas escolhas que nos permitiram chegar ao que chegamos hoje. Está bom? Agradeça! Está ruim? Agradeça por ter percebido e bola prá frente!

O olhar para trás nos dá a compreensão da vida. Não há outro meio. Para vivê-la, olhar para frente é também o único meio. Não há crescimento sem angústia e não há como cair nas mãos de Deus sem coragem. E, em meio a tantas perdas de equilíbrio e tombos, ainda podemos manter em nós o desejo extremo de continuar prosseguindo. Porém, penso que para um progresso duradouro, coerente e fiel a nós mesmos e aos que amamos, alguns itens podem ser fortalecidos em nossos corações.

O primeiro deles é o desenvolvimento da capacidade de escutar as pessoas. Melhor: saber escutar os recados da vida. Quantas vezes, em meio às dificuldades da existência, escutamos um bom conselho em uma música, em uma conversa despretensiosa no supermercado ou em uma propaganda na televisão? A vida está permanentemente nos dando recados e lições. Abrirmos nossos ouvidos a isso é libertador!

Muitas vezes também esquecemos do talento pessoal. Não existe sequer um ser humano que não saiba fazer alguma coisa bem feita! Seja a prática de um esporte, cozinhar ao ser amado, a prática do seu ofício ou até mesmo saber bater um bom papo e ajudar aos que precisam. Todos temos um talento pessoal e saber abrir-se a isso é igualmente enriquecedor.

Ah, a fé! Não há nada que nos fortaleça mais que manter a esperança e acreditar no processo da vida! É sempre assim: surgem várias situações que nos parecem o fim do mundo e, depois, tudo se ajeita, tudo se acalma e a vida segue o seu curso. A intenção da vida é nos conduzir à felicidade sempre!

Por fim, me parece que o aprendizado constante é bem interessante para mantermos o gosto pela vida. Sempre haverá novos aprendizados e novos caminhos. E através dos novos conhecimentos, criamos novas oportunidades.

Vamos começar?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vá em busca do que lhe faz bem

Reflita sobre quais pessoas, situações e escolhas lhe fazem crescer

Já reparou como as plantas buscam pelo sol? Em vasos que deixamos em ambientes internos, menos iluminados pelo sol que o ambiente externo, percebemos isso ainda mais facilmente. Os galhos da plantinha vão se direcionando para onde há mais luz. Elas se entortam, se contorcem, usam toda a sua capacidade de se moldar para ir em busca do elemento que lhes oferece energia e vida. Da mesma maneira, elas também apresentam a tendência de aprofundar as suas raízes para buscar por água e outros elementos essenciais na terra. Seguindo o fluxo natural da vida, as plantas buscam por aquilo que as fornecerá a energia vital para seguirem cheias de força, multiplicando o verde ao seu redor. Seu impulso é voltado para viver bem, cheias de potencial para multiplicar a vida, crescer, desenvolver flores e frutos saudáveis.

E nós, seres humanos, estamos em busca daquilo que nos mantém cheios de vida e recarregamos nossa energia para isso? Responda por você. Você tem ido em busca dos elementos que lhe fazem sentir-se mais vivo? Estes elementos podem ser aqueles ambientes, pessoas, situações, escolhas, estados saudáveis que lhe auxiliem no crescimento. Você se direciona para eles? Busca por eles e os mantém acesos em sua vida? Sim, porque às vezes a gente até busca, mas não mantém a chama viva, vamos nos envolvendo na correria do cotidiano e perdemos de vista o essencial.

Escolhas que falam ao coração

O que faz seus olhos brilharem? Quais companhias colocam você para cima, lhe incentivam a ser você mesmo e torcem pelo seu crescimento? Que escolhas falam mais alto ao seu coração?

"O que faz seus olhos brilharem? Quais companhias colocam você para cima, lhe incentivam a ser você mesmo e torcem pelo seu crescimento? Que escolhas falam mais alto ao seu coração? "

Quais hábitos são verdadeiramente importantes e lhe fariam ter uma vida mais plena?

Seja sincero e avalie como você tem levado a vida. Sempre há tempo para mudar de rota. Retome aqueles caminhos que apontam para o que tem a ver com você, que lhe permitem ter mais espaço para criar, para ser você e se sentir plenamente realizado, caminhos que sejam prazerosos e também acrescentem sabedoria e crescimento a cada passo.

Reflita e faça como a plantinha, que mesmo nos menores vasos e mesmo que você se esqueça de aguá-la de vez em quando, ela se vira daqui e dali para se aproximar daquilo que a fará se manter saudável, cheia de vida e de energia para continuar espalhando sementes.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

A erva do sul

Como o mate, planta de uso tradicional indígena, se tornou um símbolo de identidade cultural compartilhado por várias nações sul-americanas.


Levadas para a ervateira, as folhas de mate são sapecadas para retirar parte de sua umidade. A seguir, a erva é cancheada - folhas e galhos são cortados e picados. Depois de outra secagem vem o chamado soque, o processo final de trituração. O mate enfim está pronto para ser empacotado e vendido.

Faz um domingo frio e ensolarado em Porto Alegre. O céu muito azul, depois de dias de chuva, é um convite a sair de casa. O parque da Redenção, o mais popular da capital gaúcha, está lotado. Jovens casais conduzem carrinhos de bebês. Idosos tomam sol ou leem jornal. Atletas domingueiros passam com o fôlego curto. Jovens andam de bicicleta ou sentam-se em grupos animados sobre o gramado.

A cena não seria diferente da de qualquer outro parque urbano não fosse por um detalhe. Muitos desses porto-alegrenses comungam o mesmo curioso hábito. Enquanto conversam, passeiam, tomam sol ou chamam a atenção das crianças, eles vão consumindo uma bebida quente, sorvida de recipiente côncavo chamado de cuia, com a ajuda de um canudo metálico prateado. Cada cuia é sempre compartilhada por duas ou mais pessoas. Reabastecida com água quente, ela vai sendo passada de mão em mão entre amigos de um mesmo grupo, em um ciclo que se renova repetidas vezes.

Uma semana depois, no malecón da rambla que margeia o estuário do rio da Prata na capital do Uruguai, Montevidéu, a cena se repete. Observo casais de namorados, famílias, pescadores de fim de semana, todos desfrutando de mais um domingo de sol e da mesma misteriosa bebida quente, com seus mesmíssimos instrumentos e gestos: a cuia entre as mãos, a bomba entre os lábios, a garrafa térmica debaixo do braço.

Degusta-se o mate quente ou frio, dependendo da latitude. A bebida ganha o nome de chimarrão no Brasil e de mate nos países de língua hispânica. Sua versão refrescante, com água fria, é o tereré (pronuncia-se "tererê"). O consumo do mate está tão entranhado no cotidiano do Sul do Brasil e em três vizinhos austrais - Argentina, Paraguai e Uruguai - que, às vezes, pode se tornar até assunto de Estado. Ou de segurança no trânsito. O atual presidente uruguaio, José Alberto Mujica, ameaçou, no início de seu governo, declarar guerra aos funcionários públicos flagrados usando a cuia durante o expediente. Na Argentina, um polêmico deputado propôs, no ano passado, um projeto de lei que aplicará pesadas multas a quem tomar mate enquanto dirige na província de Buenos Aires.(O caso provocou reações indignadas dos caminhoneiros. Afinal, nas rutas argentinas, os postos oferecem não só gasolina para os veículos mas também água quente para as garrafas térmicas que enchem as cuias de mate - o combustível dos motoristas.) E, em Porto Alegre, museus, como a Fundação Iberê Camargo, anunciam já na porta, em uma placa em que se vê uma cuia coberta por uma faixa oblíqua: "É proibido 'matear' nas dependências do museu".

"A erva-mate tem efeitos digestivos e diuréticos, mas é mais consumida por ser estimulante. Tem alcaloides em sua composição, como a cafeína", explica o professor Antônio Salatino, do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo. A cafeína, que atua no sistema nervoso central, aumenta a capacidade de concentração e atenção, e está presente em outras bebidas, como café, chocolate e guaraná. Nenhuma delas, porém, conquistou tanto seus consumidores como a erva-mate. Afinal, ninguém sai de casa com garrafa térmica para preparar cafezinhos na rua, toma chá ao dirigir ou constrói monumentos ao guaraná - muitas cidades sulistas, contudo, erigiram estátuas oficiais à erva, esculturas em forma de cuia instaladas em parques, praças ou na confluência de avenidas importantes.

Essas efusivas manifestações de amor a uma infusão típica só fazem reforçar a pergunta: de onde vem a surpreendente paixão com que se consome o mate nesta parte da América?

Em uma fria manhã de junho, veem-se poucos carros na BR-153, rodovia que liga Bagé a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O agente Carlos Antônio de Araújo Carvalho, da Polícia Rodoviária Militar, contempla a estrada vazia entre sorvos de seu chimarrão. É um quadro em que tudo está no lugar certo: paisagem, homem, erva-mate - uma imagem perfeita do sul-rio-grandense em seu hábitat natural. Carvalho, porém, é fluminense de Volta Redonda, e está ali servindo o tempo de uma transferência temporária. O chimarrão é um hábito recente, mas fundamental.

"Tomar mate me ajudou na adaptação ao frio do sul", diz. "Também me ajudou a fazer amigos. O chimarrão tem papel importante na socialização das pessoas. Ele é um pretexto para se reunir. As pessoas se encontram, conversam em roda enquanto a cuia vai passando de mão em mão." Diante do súbito ronco da cuia, sinal de que a água acabou, ele alcança a garrafa térmica sobre o balcão e enche novamente o porongo decorado de entalhes em baixo-relevo com motivos campestres. "O mate me ajudou a me tornar um pouco mais nativo", reflete.

Outra estrada, a RS-332, corta o verde vale do Taquari, na serra gaúcha, a principal zona produtora da planta no Brasil. Por isso, também é chamada de Caminho da Erva-Mate. Nas suas margens, pequenas cidades e indústrias dependem de produção e comercialização da commodity nativa. Os ervais sucedem-se à beira da via de asfalto, mas, à primeira vista, fica difícil perceber terrenos cultivados, já que não há aparente regularidade na disposição das árvores.

De perto, a planta de erva-mate - Ilex paraguariensis, como foi classificada pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, em 1822 - tem caule acinzentado e folhas ovaladas de um verdeescuro brilhante. Nos ervais, ela nunca é muito alta, pois cada árvore é podada para se manter a não mais que 3 metros de altura e facilitar a colheita periódica dos ramos. Porém, na mata, certos exemplares podem chegar a 12 metros.

As árvores nativas são o tesouro da Ervateira Putinguense, uma empresa familiar administrada há várias gerações pela família Guadagnin. Sua produção tem certificação florestal: é orgânica, sem agroquímicos, e os pés de erva-mate crescem entre outras árvores no meio da mata. "Meus pais já produziam erva-mate quando ainda se usava banha de porco no lampião para alumiar a casa", conta Eduardo Guadagnin, atual responsável pela empresa. "A cancheadeira era movida a cavalo e toda a erva passava pelo barbaquá", prossegue ele, referindo-se aos antigos fornos rústicos em que as folhas da erva-mate eram secadas - a empresa está hoje totalmente mecanizada. Guadagnin produz apenas para o mercado nacional, mas a certificação florestal de seu produto tem conseguido novos clientes fora do mercado tradicional, como a empresa de cosméticos Natura, que utiliza o extrato das folhas de erva-mate em alguns de seus produtos de beleza.

Perto dali, em Ilópolis, sente-se a influência da erva-mate até no nome da cidade. Ele deriva de ilex (a primeira palavra do nome científico da erva) e de polis (cidade, em grego). Ilópolis, cidade do mate. É tempo de comemoração no município de 5 mil habitantes descendentes de italianos, onde as poucas avenidas são divididas por jardineiras que servem de apoio para grandes cuias de mate, uma decoração permanente em homenagem a seu principal produto. Naquela noite, aconteceria a primeira aparição pública das Soberanas do Mate, as madrinhas de uma festa tradicional que ocorre a cada dois anos, sempre na primeira quinzena de novembro.

No início da noite, o interior do antigo Moinho Colognese, decorado com sacos de erva-mate e bandeiras italianas e brasileiras, já está repleto de ilopolitanos, ansiosos com a aparição de suas soberanas. Autoridades circulam entre os presentes, trocando impressões e expectativas sobre a festa. Nos cartazes e nos cartões de visita das autoridades chama a atenção o logotipo municipal: o nome Ilópolis seguido de três folhinhas de erva- mate - a primeira verde, a segunda amarela e a terceira avermelhada -, que representam as cores dos estágios de germinação pelos quais passa a semente da planta. Não por acaso, são também as cores da bandeira do Rio Grande do Sul.

Depois de longo suspense, o resultado: Viviane de Bona, de 17 anos, Gessica Provence, de 18, e Franciele Dall'Agnol, de 20 - a rainha e as duas princesas do mate em 2010 -, adentram o recinto. Trajadas em vestidos longos cuja cor homenageia o tom rubro do último estágio da semente de erva-mate e coroadas de diademas, as lindas soberanas recebem o aplauso entusiasmado dos presentes. Seguem-se os discursos das autoridades, que enfatizam o fato de que a erva representa 70% da economia municipal. "A planta é o nosso ouro verde", afirma um dos presentes.

A commodity lidera um mercado quase tão antigo quanto a chegada dos espanhóis à bacia do Prata, a partir de onde adentraram no continente. Em São Miguel das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul, ainda é possível escutar fantasmagóricas vozes de índios e colonizadores. E também gritos de guerra, tropéis de cavalos, algaravias de batalhas antigas entre portugueses, espanhóis e tribos indígenas. Para ouvi-los, é preciso que seja noite fechada e você se coloque diante das ruínas de uma antiga e monumental igreja. Não se trata de uma atividade paranormal: as vozes são do espetáculo Som e Luz, uma atração turística do sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo, que conta a saga das missões jesuíticas no Brasil e nos países vizinhos.

No século 17, a coroa espanhola e a Igreja se opunham na defesa de dois modelos distintos de colonização para a região. O centro dessa disputa era o índio. De um lado os representantes da empresa colonial - soldados, comerciantes, mercadores - buscavam a conquista total da nova terra, o que incluía a escravização de todos os seus índios. Do outro os padres da Companhia de Jesus propunham civilizar o índio em comunidades autônomas e igualitárias, nas quais as principais atividades seriam o trabalho e a devoção a Deus. Entre 1610 e 1707, a Companhia de Jesus fundou 30 dessas comunidades - as missões jesuíticoguaranis -, espalhadas por uma área de cerca 490 mil quilômetros quadrados, território que hoje é dividido entre Brasil, Argentina e Paraguai.

As missões, também chamadas de reduções, foram os principais centros de desenvolvimento da bacia do Prata. Os jesuítas introduziram ali a pecuária, além de diversas técnicas e artes europeias, como a fundição de metais, o trabalho com o couro, a escultura e a música. E também foram os primeiros a organizar o cultivo da erva-mate.

"O mercado da erva surgiu no início do século 17, dentro do sistema de trocas da colônia espanhola", explica o arqueólogo Artur Barcelos, da Universidade Federal do Rio Grande, que participou de diversas escavações na antiga redução de São Miguel Arcanjo, cujas belas ruínas hoje integram a lista do Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade da Unesco. A erva era um hábito frequente dos índios guaranis e chegou a ser proibida pelos espanhóis no início da colonização, mas isso logo mudou com a percepção de seu valor de troca - o mate tornou-se então um importante recurso econômico. "Os missionários foram bem-sucedidos no cultivo da árvore, sabendo que o excedente de sua produção poderia ser vendido a um bom preço. Muitas reduções ficaram ricas com o comércio. A Companhia de Jesus tinha um registro bastante preciso de sua economia interna", conta Barcelos.

Graças ao intercâmbio constante dos grupos indígenas subjugados pelos espanhóis, o hábito do mate espalhou-se pela colônia, chegando até o alto Peru, às minas de prata de Potosí, na Bolívia, e ao Chile. A palavra máti, da língua quíchua, que designa a cuia, acaba batizando a planta - a erva que se toma no máti: erva-mate.

Pergunto a Barcelos por que tomar mate é algo tão arraigado nesta parte do continente. "A persistência tem a ver com o processo histórico de miscigenação. A região platina tem um passado colonial comum, e gosta de cultivar suas tradições. O mate é uma delas. É algo que nos une, um hábito público. Uma espécie de código de convívio e também um signo de identidade", diz.

Uma lenda guarani conta a história de um velho guerreiro de pernas trôpegas que, já incapaz de sair para as guerras, pescando e caçando com dificuldade, pediu a um mensageiro do deus Tupã uma solução para seus males. O mensageiro entregou-lhe o galho de uma árvore e ensinou-o a fazer uma infusão - ka'ay - que lhe devolveria suas forças. O velho combatente assim fez, recuperou o vigor perdido e divulgou a novidade entre os membros de sua tribo, os quais, passando a tomar a infusão ka'ay, se tornaram cada dia mais fortes e valentes.

Ka'ay: é assim que se chama o mate no mercado El Quatro, em Assunção, no Paraguai, onde o guarani é a língua oficial nacional, ao lado do espanhol. Uma comerciante, Amelia Galeano, tenta nos ensinar a falar mate em guarani. Mas ka'ay é uma palavra de difícil pronúncia. O problema é o ipsílon final, um som levemente gutural, que se pronuncia com a língua no céu da boca, e não existe em português nem em espanhol. Amelia vende garrafas térmicas para mate e tereré, um artigo indispensável do paraguaio. Ela tem termos especiais para mulheres, cobertos de bordados, tecidos floridos e estampados. Ou, para torcedores de futebol, com brasões dos times do Mercosul. E, para homens elegantes, revestidas de pelo de vaca macio ou de couro de alta qualidade. Há ainda garrafas térmicas para ocasiões especiais, como aniversário de namoro, casamento, o Dia das Mães, com dedicatórias gravadas como "Te quiero", "Tu eres mi cariño" ou "Felicidad, mamá!"

Assunção fica às margens do rio Paraguai, e quem cruza suas águas adentra território argentino. Se Amelia Galeano fosse vender suas garrafas na outra margem, ela certamente fracassaria. Pois os argentinos não costumam tomar seu mate na rua. São mais discretos. (Decerto porque não achem muito elegante andar com um termo a tiracolo.) Isso não quer dizer, porém, que apreciem menos o mate que seus vizinhos.

Muitas celebridades argentinas já declararam seu amor à erva-mate. Em um texto, o escritor Julio Cortázar lembra a época em que morava em Paris, e esperava com ansiedade as caixas enviadas de Buenos Aires, "cajoncitos en los que la familia nos mandaba yerba", entre outros mantimentos. Jorge Luis Borges, em um de seus poemas, elogiou o perfume que se desprende de uma cuia de mate. E o revolucionário Ernesto Che Guevara fez questão de ser fotografado inúmeras vezes com mate e bombilla entre as mãos.

Apesar de não gostarem de consumir a bebida na rua, os argentinos inventaram um jeito de tomar mate em público - os chamados bares de mate. No bairro de Palermo Viejo, em Buenos Aires, é possível ver, em um domingo, amigos em torno de uma mesa sorvendo de cuias modernas, coloridas, de alumínio anodizado a água quente suprida por chaleiras - que os argentinos chamam de pavas - do mesmo material.

O empresário Santiago Olivera é dono de três bares na capital argentina, e um dos precursores dessa nova modalidade de se tomar mate. "Tudo começou na época em que eu era universitário", diz. "Os estudantes bebem mate para virar a noite em véspera de prova e entrega de trabalhos."

É manhã de sexta-feira, e em seu bar Volviste Clara, no centro da cidade, todas as mesas estão ocupadas por grupos de alunos com livros abertos, cadernos e laptops - ao lado, é claro, de cuias de erva-mate. "É bem mais íntimo que o café. Como a cuia é compartilhada, o mate aproxima as pessoas, cria laços", explica a jovem Arantza Olagues. "O mate aconchega. É um ritual de confiança", completa seu colega Matías de Vicenzi.

Jaguarão, na fronteira entre Brasil e Uruguai, fica às margens do rio de mesmo nome. A cidade histórica, famosa por suas casas antigas, de altas portas entalhadas, platibandas e bandeiras bem preservadas, deverá ser declarada patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) em 2011. Na margem oposta fica Rio Branco, no Uruguai. Na verdade, Jaguarão e Rio Branco são praticamente uma só cidade, cujas duas metades por acaso estão em países diferentes. Natural de Jaguarão, embora hoje more em Pelotas, o escritor Aldyr Garcia Schlee me acompanha em uma visita à região. Ele é autor de vários livros sobre as tradições sulistas e a vida na fronteira.

Sobre o rio Jaguarão estende-se a ponte internacional Mauá, com seus arcos elegantes refletidos sobre a superfície da água. Nesse domingo, há um vaivém frenético na ponte, pois Rio Branco é na verdade um enorme free shop que atrai nos fins de semana milhares de brasileiros ávidos por compras. "Aqui eles podem ir ao exterior sem sair do interior", observa Schlee com um sorriso.

Sacoleiros e turistas passam o domingo nas lojas do outro lado da fronteira, e a cidade mantém seu ritmo tradicional. A praça diante da Igreja Matriz está cheia de pequenos grupos, acompanhados de suas garrafas térmicas, tomando chimarrão. Chegamos ao cerro da Pólvora, onde se encontram as ruínas de uma antiga enfermaria militar construída em 1883. Ali, conta Schlee, será erguido o futuro Centro de Interpretação do Pampa, que deverá ser inaugurado em 2012, um grande museu dedicado às tradições pampeanas - como seu hábito de tomar mate.

Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/edicao-136/erva-mate-631626.shtml?page=0

Amores antigos, mas sem rotina

Não deixe que a intimidade influencie negativamente a relação



Quando estamos num relacionamento há tempo suficiente para não precisarmos mais nos preocupar com o estado do nosso cabelo ou da roupa que estamos vestindo, começamos a relaxar também em outro setor igualmente importante: as boas maneiras. Talvez por consideramos que o outro está ganho ou que, como já nos conhece bem, irá deixar pra lá, passamos a esquecer sistematicamente pequenas gentilezas que continuamos a oferecer para estranhos como "obrigado" e "por favor". Ou ainda não usamos um tom mais dócil na hora de pedir uma ajuda ou sequer temos consideração antes de descarregar um monte de problemas na cabeça do outro.

Não é interessante pensar que aquele que amamos geralmente é alvo de birras, de respostas "atravessadas", de mau humor, de pedidos ríspidos? Apesar disso parecer intimidade, na verdade é apenas uma desculpa para tornarmos o outro uma espécie de servo para nós. Por mais que tenhamos problemas e seja reconfortante poder chorar no ombro de nossa cara metade, não podemos aceitar que ela deva ser desrespeitada ou tratada mal apenas para provar que nos ama o tempo todo.

Na verdade, quantas mulheres não usam isso de base para medir o amor de seus homens? Elas dizem: "depois de tudo o que eu já fiz, ele continua aqui comigo, então realmente me ama". Isso chega a ser dito muitas vezes como sendo um grande triunfo. Porém, se nos colocássemos na posição do outro, veríamos o quanto é difícil lidar com um companheiro que está constantemente irritado, desequilibrado, dizendo grosserias, deixando-nos simplesmente sem uma resposta sobre determinado assunto ou saindo sem dizer aonde vai, entre tantas outras desconsiderações.

Por isso, pense um pouco se você não está fazendo isso com a pessoa que mais ama e procure:

  • Dizer por favor e obrigado
  • Considerar a opinião do outro sem rebater rapidamente
  • Ser menos crítico ou julgador
  • Não aumentar o tom de voz para se impor
  • Levar em consideração o desejo e a disponibilidade do outro
  • Não fazer chantagem emocional para conseguir o quer
  • Não ficar falando sem parar, sem observar se não está atrapalhando

Tendo isso em mente, você não só terá intimidade, como também uma relação agradável, cheia de respeito e compreensão. Afinal, quando achamos que o outro está ganho, deixamos de nos esforçar, melhorar e até mesmo surpreender. E não há intimidade que suporte a mesmice do dia-a-dia. Então, que tal sempre olhar seu amor como alguém que você acabou de conhecer e que precisa conquistar? Só este pensamento já não faz as coisas terem um sabor diferente? Experimente!


Fonte: http://www.personare.com.br/revista/amor/materia/1541/amores-antigos-mas-sem-rotina

sexta-feira, 17 de junho de 2011

8 dicas para a mulher endividada reestruturar as finanças

As mulheres são as campeãs da inadimplência, mas com disciplina e planejamento podem voltar ao azul e até passar a poupar


Mulheres são as mais endividadas até 500 reais e costumam cair nas armadilhas do cartão

As mulheres sem dúvida ganham cada vez mais espaço no mundo do trabalho, do consumo e dos investimentos, mas esse protagonismo vem acompanhado de um lado bem menos festivo. De acordo com dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 55% dos devedores são mulheres, o que mostra que, para muitas delas, o ganho de renda veio acompanhado da angústia das dívidas.

Não é à toa. Mulheres ganham em média 30% menos que os homens no Brasil, e a diferença salarial é observada até entre ocupantes do mesmo cargo. Fora isso, os gastos femininos são diversos e constantes. Além de sujeitas aos apelos da moda e da demanda social por um maior cuidado com a própria aparência, as mulheres também costumam concentrar a responsabilidade pelas despesas diárias da família, como alimentação, roupas, eletrodomésticos, itens para o lar e material escolar para os filhos.

Mas são justamente esses gastos corriqueiros e de baixo valor que podem se tornar verdadeiras bestas incontroláveis. Apesar disso, uma pesquisa americana já provou que as mulheres são mais controladas e, portanto, mais bem sucedidas na hora de investir. Ou seja, potencial para lidar bem com as finanças todas têm. Veja, a seguir, oito dicas para as mulheres que querem sair do vermelho e reestruturar a vida financeira.

1 Use investimentos para pagar as dívidas

Mesmo quem tem poupança no banco ou investimentos em renda fixa muitas vezes acaba se endividando. Nesse caso, o mais aconselhável é usar as reservas para quitar a dívida o mais rápido possível, sem aquele apego que investidores menos experientes costumam ter. “A rentabilidade do investimento é sempre menor que os juros que a pessoa vai pagar”, diz a educadora financeira Sandra Blanco.

Um exemplo: suponha que o investimento em renda fixa rendeu, num mês, 0,8%. Para cada 1000 reais investidos, o investidor ganhou, portanto, 8 reais. Uma dívida de 1000 reais no mesmo período, com juros de 10% ao mês, passa a ser de 1.100 reais. “Vale a pena ganhar 8 reais e pagar 100?”, provoca Sandra.

2 Renegocie as dívidas

As devedoras que não têm um tostão poupado devem começar a se preocupar antes que o nome entre em um cadastro de inadimplentes, o que normalmente ocorre após três meses de endividamento, embora possa acontecer com apenas um dia de atraso. O primeiro passo é listar todas as dívidas e trocar as mais caras pelas mais baratas. Quem ainda não está com o “nome sujo” pode obter um empréstimo a juros menores para quitar as dívidas com juros maiores.

Se o CPF já foi parar em um cadastro de inadimplentes, a única maneira é listar as dívidas – é possível fazer isso nos balcões de empresas como SPC ou Serasa – e tentar renegociá-las, com novos prazos e parcelas que caibam no bolso. Fazer um empréstimo com alguém da família para quitar a dívida o quanto antes também é uma opção. Mas lembre-se de firmar o compromisso em contrato.

3 Considere a inflação

“Para não se endividar, é preciso botar todas as despesas na ponta do lápis e fazer a conta fechar. Se a inflação comprometeu o orçamento, é hora de reestruturá-lo, para que a conta continue fechando”, aconselha Sandra Blanco.

4 Quando o cartão de crédito é inimigo

A armadilha que mais costuma “pegar” os inadimplentes é o cartão de crédito. O conselho dos especialistas é nunca, mas nunca mesmo, pagar apenas o mínimo da fatura. Isso porque, ao fazer isso, o limite se renova para o mês seguinte. Quem não tem dinheiro deve simplesmente não pagar, para que um novo limite não incentive mais gastos.

Outro erro a ser evitado é somar o limite do cartão à própria renda mensal. Isso é uma ilusão. O consultor financeiro Mauro Calil, por exemplo, aconselha que a soma dos limites de todos os cartões não ultrapasse metade da renda. “A pessoa tem uma falsa sensação de que tem recursos. Até que um dia, o mínimo da fatura passa a corresponder a 50% da renda, de tanto que a dívida cresceu. É nessa hora que a pessoa percebe que está endividada”, diz Dora Ramos, diretora da assessoria contábil Fharos.

A pesquisa do SPC mostrou que as mulheres são a maioria das devedoras para somas de até 500 reais, enquanto os homens são os principais endividados acima desse valor. Como geralmente ganham mais, os homens tendem a pôr em seu nome as dívidas mais altas, como os financiamentos habitacionais e de veículos. Isso não significa, contudo, que as mulheres não contribuam com parte da renda para esses pagamentos.

Quem já comprometeu a renda com o pagamento do cartão de crédito vai, evidentemente, ficar sem dinheiro para pagar as despesas básicas que não são pagas no cartão: contas de luz e gás, aluguel e escola dos filhos, só para citar alguns, além de sua parte nos financiamentos longos dos bens mais caros da família. A inadimplência pode se espalhar para outras despesas.

5 Anote o seus gastos

Pode ser pela fatura do cartão, pelo extrato do banco, pela planilha, pelo caderninho, não importa. O importante é anotar para manter controle desses pequenos gastos e saber direitinho por onde o dinheiro está escorrendo. Quem costuma parcelar as compras no cartão precisa ter cuidado redobrado. Um produto dividido em seis vezes comprometerá parte de sua renda ao longo de seis meses. Se no mês seguinte foi feita uma nova compra, parcelada em oito vezes, já serão duas parcelas para se preocupar pelos próximos cinco meses.

6 Planeje as compras

Saia de casa sabendo o que vai comprar. Antes de ir ao mercado, faça uma lista de compras. E procure ater-se sempre ao planejamento. O apelo de consumo, as vitrines, a moda, a manha das crianças, uma discussão com o chefe, com o marido ou com os pais, uma TPM, qualquer coisa pode ser motivo para a compra por impulso de algo que não é necessário, mas é preciso contar até dez e resistir à tentação.

“O planejamento familiar também deve prever alguns supérfluos e emergências, pois estes também fazem parte do dia a dia da família. Se apenas o básico estiver previsto, o orçamento nunca terá um respiro para sair do essencial”, aconselha Dora Ramos.

7 Corte e economize

Com um controle mais rígido dos pequenos gastos já fica mais fácil saber onde cortar. É preciso ter real noção do que é necessário, do que é capricho e do que é simplesmente desperdício. Para Dora Ramos, o melhor é pensar nas finanças como se a própria pessoa fosse uma empresa, cortando aquilo que for desnecessário, trocando para marcas mais baratas e, é claro, aproveitando promoções e liquidações. “Ninguém vai sair de moda porque comprou peças da coleção anterior por um preço mais em conta”, diz Dora.

8 Cuidado com as promoções

Só cuidado para não cair na armadilha dos falsos bons negócios. Aproveite uma promoção apenas depois de ter certeza de que 1) você precisa do produto ou serviço e 2) o item em promoção está realmente mais barato. Parece óbvio, mas se endividar para comprar um item desnecessário só porque ele está em promoção não é inteligente. E parece mais óbvio ainda que onde está escrito “promoção” necessariamente o produto será mais barato, mas nem sempre é o que acontece. “Às vezes o que está em promoção em uma loja, supermercado ou site pode ser encontrado por um preço ainda menor em outro lugar. É importante pesquisar”, diz Dora Ramos.


Fonte: http://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/credito/noticias/8-dicas-para-a-mulher-endividada-reestruturar-as-financas?page=1&slug_name=8-dicas-para-a-mulher-endividada-reestruturar-as-financas

segunda-feira, 13 de junho de 2011

8 formas de ajudar seu filho a ficar rico

Saiba como gastar tempo e dinheiro em coisas que realmente abrirão portas para ele no futuro



Universidade Harvard: se endividar para pagar uma faculdade cara demais não é a melhor forma de ajudar seu filho a enriquecer

Todo mundo já sabe que ficar rico não é fácil, mas planejar o futuro financeiro e tomar decisões com muita antecedência é sempre a forma mais fácil de atingir seus objetivos. Veja abaixo oito formas de começar a preparar seu filho desde já para que ele possa desfrutar uma vida financeiramente confortável no futuro:

1 - Não eduque demais os filhos

Fazer um mestrado ou um doutorado costuma ser caro e demorado. Isso pode até soar como heresia para muita gente, mas nem sempre o investimento vai valer a pena. No livro "Pai Rico, Pai Pobre", um dos maiores best-sellers de finanças pessoais da história, os autores Robert Kiyosaki e Sharon Lechter defendem que o caminho mais curto para ficar rico é procurar acumular, o quanto antes, ativos que gerem renda e permitam conquistar a independência financeira. Eles qualificam de "corrida dos ratos" a busca constante por qualificações e títulos em escolas renomadas para conseguir melhores empregos. Do ponto de vista financeiro, dizem, faz muito mais sentido ensinar os filhos a farejar oportunidades nos mercados imobiliário e acionário que possam levar a ganhos maiores e mais rápidos. Em entrevista a Forbes.com, o economista Laurence Kotlikoff, da universidade de Boston, ilustrou essa mesma teoria de outra maneira. Ele afirma que, nos Estados Unidos, o ganho médio de pessoas graduadas em pedagogia ou psicologia não chega à metade do salário de um encanador. Outra vantagem do encanador é a de poder começar a trabalhar e ganhar dinheiro bem mais cedo do que alguém que precisa esperar até a conclusão de um curso superior. Kotlikoff não quer dizer que um diploma universitário ou uma pós-graduação não sejam importantes para ninguém. Mas ele aconselha o investimento na carreira acadêmica a quem adora livros. Quem sonha em ganhar um bom dinheiro precisa adquirir conhecimentos que valham dinheiro no mercado.

2 – Não se endivide para pagar uma faculdade cara demais

Laurence Kotlikoff, da universidade de Boston, também aconselha as pessoas a não se endividar para dar ao filho um curso de graduação em uma faculdade renomada. Há diversas faculdades no Brasil que chegam a cobrar mensalidades que somam 30.000 reais ou mais por ano de seus alunos. A dívida acumulada, seja por meio de empréstimos bancários ou pelo programa governamental de financiamento educacional Fies, poderá superar facilmente os 100.000 reais ao término da graduação. O governo brasileiro oferece duas oportunidades para os jovens estudarem de graça: as universidades públicas e as bolsas do ProUni. Se nenhuma das duas possibilidades estiverem ao alcance dele, não se desespere. Para Kotlikoff, é melhor fazer uma faculdade mais barata do que chegar ao mercado de trabalho bastante endividado. Afinal, diz o professor, talento e ambição são muito mais importantes para alguém ganhar dinheiro do que a escola onde ele estudou.

3 – Dê incentivos financeiros para seu filho tentar ganhar mais dinheiro

Não é fácil começar uma carreira, seja ela qual for. Quem acaba de entrar no mercado de trabalho geralmente não possui qualificações suficientes para ganhar muito dinheiro ou executar tarefas desafiantes. É natural, portanto, que seu filho fique desanimado com os primeiros anos de carreira. Uma forma de convencê-lo a continuar em busca de progresso profissional é dar incentivos financeiros que lhe motivem a buscar maiores rendimentos no futuro. A forma certa de fazer isso é depositar em uma conta que ele não possa movimentar uma quantidade de dinheiro proporcional a seus ganhos. Então, se ele ganha 2.000 reais por mês, você pode complementar a renda em mais 1.000 reais. Quando ele ganhar um aumento, também deposite mais dinheiro para ele. Só permita resgates nessa conta para a realização de sonhos importantes. Essa estratégia gera três benefícios: 1) mantém seu filho mais motivado com o trabalho; 2) cria uma reserva de emergência para ele; e 3) permite ganhos representativos no futuro com o recebimento de juros sobre juros.

4 – Ensine seu filho a cuidar do próprio dinheiro desde cedo

A maioria das pessoas costuma dar pequenas quantias de dinheiro aos filhos para que eles comprem um ingresso de cinema ou um lanche na escola. Ao invés de fazer isso, dê somas maiores de dinheiro uma única vez por mês e deixe ele decidir se vai gastar com uma roupa nova, uma viagem ou saindo à noite. Se ele gastar tudo em uma semana, não sinta culpa em dizer "não" quando ele lhe pedir mais dinheiro. Isso vai ensiná-lo a evitar desperdícios e a gastar com coisas que realmente valem a pena. No futuro, quando ele sair de casa para estudar em uma faculdade, dificilmente vai lhe telefonar para dizer que ficou sem dinheiro e que precisa de ajuda.

5 – Presenteie seu filho com ações

O educador financeiro Mauro Calil é um dos maiores entusiastas da ideia de formar uma poupança para o filho com ações quando ele ainda é muito jovem. Diversos estudos mostram que, no longo prazo, a bolsa costuma dar retornos bem superiores à renda fixa. Ainda que isso nem sempre seja verdade, no longo prazo sempre haverá algum momento de alta no mercado em que será possível vender papéis de empresas sólidas com um bom lucro. Mantidas sob sua própria custódia, essas ações poderão garantir a seus filhos conquistas importantes, como estudos em uma boa faculdade, a compra da casa própria ou a possibilidade de abrir um negócio. Também vai ensinar a seu filho a importância de poupar no longo prazo e procurar aplicações financeiras de maior rentabilidade como a bolsa. Se os juros continuarem em queda no Brasil como se espera, provavelmente seu filho não terá a mesma chance de obter bons ganhos com investimentos de renda fixa como as gerações atuais.